Devoção que Une Gerações em uma Peregrinação de Fé
A devoção que une uma família em promessas, desafios e celebrações rumo ao santuário de Nossa Senhora Aparecida.
Por Aline Monte Sião

Família de Alice cumprindo a promessa, feita pelo avô, em 2009, dois anos após o incidente / Acervo familiar
Uma família munida da fé católica, não se pode dizer quem trouxe essa devoção. Dona Maria Aparecida e o Senhor Benedito mantêm um matrimônio de 51 anos, do qual resultaram cinco filhos – quatro biológicos e uma adotiva – além de treze netos e uma bisneta. Desde os tempos em que se conheceram, a fé tem sido um pilar central em suas vidas e na educação dos filhos.
Dona Maria, apelidada, carinhosamente como Fiinha, nasceu em Luminosa do Sul, Minas Gerais, em 15 de fevereiro de 1956, cresceu em uma família que sempre valorizou a espiritualidade. Desde pequena, foi ensinada pela avó Flauzina a rezar e a confiar em Deus. Embora tenha enfrentado desafios, como a falta de oportunidades de estudo, sendo a filha mais velha entre sete irmãos, teve a necessidade de ajudar os pais na infância, Dona Fiinha nunca deixou que isso a afastasse de sua fé.
O casal, que se casou quando Maria tinha apenas 16 anos, construiu uma vida juntos, cercada de momentos marcantes. Nos anos em que foram proprietários de malharias e lojas em Campos do Jordão, a fé sempre esteve presente, servindo como suporte nas dificuldades e nos momentos de celebração.
A devoção à Nossa Senhora Aparecida é especialmente forte na família. Realizar a romaria é um ato significativo para todos. Dona Fiinha revela: “Nas dificuldades, é para ela que eu ‘grito’”. E acrescenta que seus filhos e netos não são mais dela: “Eu dei eles para Nossa Senhora”.
Um episódio marcante que testou a fé da família, ocorreu em uma quarta-feira de 2007, quando a neta, Alice, com apenas quatro anos na época, sofreu um grave acidente. Enquanto brincava no quintal dos avós, uma pilha de andaimes desabou sobre ela, resultando em ferimentos severos nos dedos da mão esquerda. O desespero tomou conta da família naquele momento. Dona Fiinha e seu esposo, Senhor Benedito, imediatamente levaram a criança ao Ponto Socorro da cidade, mas, tragicamente, o carro ficou sem gasolina no caminho.
A situação tornou-se ainda mais angustiante quando perceberam que o hospital mais próximo era o particular São Camilo. Senhor Benedito, carregando a neta nos braços, correu até o hospital, e no caminho com desespero fez uma promessa a Santa, pedindo que nada acontecesse com Alice.
Ao chegarem ao hospital, a avó acalmava a neta, dizendo que Nossa Senhora estava “cuidando do dedinho dela”. Os médicos informaram que seria necessária a amputação dos dedos de Alice. No entanto, em um momento de pureza e fé, a garotinha pediu que não permitissem a amputação, afirmando que “a mãezinha do céu vai me curar, vó.” Dona Fiinha relata que Alice dizia ver a Santa na sala: “Mas só as crianças podem ver.”
O médico sugeriu tentar manter os dedos com uma tala por dois dias, até sexta-feira, para avaliar a situação. A partir desse momento, as orações da família se intensificaram, pedindo a recuperação da neta sem cirurgia, e todos da família iria a peregrinação a Aparecida a pé. Os dias que se seguiram foram de incerteza e apreensão, mas também de fé inabalável.
Após uma avaliação cuidadosa, a cirurgia foi adiada. A cada dia que passava, Fiinha, Benedito e toda a família oravam, confiando que a intercessão da padroeira do Brasil poderia preservar os dedos da neta. Graças aos cuidados médicos, Alice começou a se recuperar e, para a alegria de todos, a amputação foi descartada. A fé que movia a família foi recompensada com a recuperação completa da criança, que hoje, aos 22 anos, não apresenta sequelas do acidente. “Quando Deus cura, é perfeito; quando Nossa Senhora intercede, ela não remenda.”
Dois anos após o incidente, a família cumpriu a promessa feita a Nossa Senhora e realizou a caminhada até Aparecida. Essa peregrinação não foi apenas um ato de gratidão, mas também um momento de união e celebração da fé que sustenta todos os aspectos de suas vidas. Eles andaram juntos, revivendo os desafios e a dor que passaram, mas também a alegria da cura e da proteção divina. “O corpo vem rebentado, mas a alma volta leve.”
“Se eu for contar quantas graças que Nossa Senhora fez, posso virar a noite.”
Hoje, aos 68 anos, Dona Maria é coordenadora do grupo de oração Nossa Senhora do Carmo, onde as reuniões ocorrem semanalmente em sua casa. A fé, que lhe foi transmitida pela família, continua a ser um legado importante que ela se esforça para passar adiante.
Dona Maria repassa sua fé e devoção por meio de testemunhos e pelo seu jeito de ser. Embora a correria da vida a impeça de estar presente na rotina de seus netos, ela reza diariamente, pedindo à Mãe de Deus proteção e orientação para a família: “Minha Nossa Senhora, cuida deles e esteja onde eu não posso estar.”

Dona Fiinha deixa seus filhos e netos nos pés de Nossa Senhora, onde realiza suas orações todo manhã./
Foto: Aline Monte Sião
